quarta-feira, 20 de maio de 2009

História que se rePET


É inevitável. A imagem que vem à mente de qualquer flamenguista após o anúncio da volta de Petkovic é a do sérvio colocando aquela bola no ângulo esquerdo do gol do Vasco e garantindo o quarto tricampeonato da nossa História há exatos oito anos.

Entretanto, entre aquele Pet e o que se apresenta na próxima segunda-feira ao Maior do Mundo, há a figura de um “coroa” decadente que não rendeu muito em suas recentes passagens por Goiás, Santos e Atlético Mineiro.

Dos bastidores vem a notícia de que o gringo estaria voltando por imposição própria, sem o aval da comissão técnica, e que, para tanto, abriria mão de parte da enorme dívida que o clube tem consigo.

Perfilo com os otimistas. Pet é (ou já foi) craque. Tem categoria, visão de jogo, toque de bola refinado e chute preciso. Diferentemente dos marcadores esforçados e dos atacantes corredores, mesmo aos 36 anos, ainda pode protagonizar grandes jogadas. Isso se estiver realmente disposto a se dedicar com afinco a sua nova empreitada. E creio que esteja. Ao voltar ao Flamengo Pet não só abre mão de dinheiro como põe em jogo a mítica imagem que construiu em 2001.

Em boas condições físicas e utilizado com sabedoria, o gringo pode mostrar parte de seu vasto repertório e ser a “cereja do bolo” do time no Brasileirão. Gordo e fora de forma, não perde os gols que o Obina e o Josiel perdem, chuta melhor que o Ibson e o Kleberson e tem mais bola que o Bunda, o Lúcio Flávio e o Wellington Paulista juntos.

E não é só. Ainda que tenha exigido sua volta, Pet não pode impor sua escalação. Em último caso, fará companhia a Jônatas (o que, aliás, acho um grande desperdício) no vídeo-game e no carteado, enquanto os escolhidos de Cuca vão a campo. Com a diferença de que sua ilustre torcida proporcionará um bom alívio para o nosso rico dinheirinho.

Só o tempo dirá o Pet de que nos recordaremos: o craque imaculável que nos deu um tricampeonato e, como Zico em 87 e Júnior em 92, voltou para comandar o time no fim de sua carreira ou o gringo marrento que “queimou o filme” exigindo sua volta quando não tinha muito mais a exibir.

Para encerrar o post de forma saudosista, transcrevo cobertura da final do Carioca de 2001 extraída do site do Flamengo.

Um jogo digno de Flamengo e Vasco. Um jogo digno de final de Campeonato Carioca. Esta foi a decisão do Estadual do Rio de Janeiro do ano de 2001. Diante de mais de 60 mil pessoas no Maracanã, o Fla fez o impossível. Não tomou conhecimento do rival e de sua vantagem, e aplicou um 3x1 inesquecível, com dois gols de Edílson, artilheiro do campeonato, e um de falta do maestro Petkovic, imortalizado na história do Clube.

Durante o primeiro tempo, o jogo foi bem agitado. Nervoso e precisando do resultado, o Flamengo pressionava, enquanto o time de São Januário se mandava nos contra-ataques. Logo no início do jogo, Viola poderia ter aberto o placar para o Vasco da Gama, mas Júlio César salvou o Fla. Mas, aos 23, quem, de fato, abriu o placar, foi o Flamengo. O lateral-esquerdo Cássio foi derrubado na área. Pênalti. O artilheiro do time do Campeonato, Edílson bateu e marcou. 1x0 para o Rubro-Negro, que precisava de mais um gol para conquistar o título.

No entanto, quem marcou em seguida foi o Vasco. Primeiro com Euller, em gol que foi anulado pelo bandeirinha, devido ao impedimento. Depois, após tanto pressionar, e perder novas chances com Viola e Euller, Juninho Paulista empatou o jogo, após receber passe do atacante Viola, dentro da área. O próprio Juninho poderia ter decidido o jogo. Mas, Júlio César salvou o Fla. De novo. Fim do primeiro tempo, vantagem do Vasco, com o Flamengo precisando de dois gols para ser campeão. Honrando a camisa que vestiam, os jogadores nunca deixaram de acreditar.

Na volta do intervalo, o Flamengo mostrou ao que veio. Empurrado pela torcida, mesmo com o título longe, o Rubro-Negro se superou, e chegou ao segundo gol. Aos 8 minutos, começava a brilhar a estrela de Petkovic. Em bela jogada pela ponta-esquerda, o camisa 10 do Fla deu belo cruzamento para o artilheiro Edílson, o baixinho da vez, já que Romário, do Vasco não jogou, completar de cabeça: 2x1 para a equipe vermelha e preta.

A partir daí, só emoção. Juninho Paulista cobrou falta com perigo e acertou o travessão de Júlio César. Euller chegou a driblar o goleiro em outro lance perigoso a favor dos cruzamaltinos. Mas, ficou sem ângulo, e perdeu a chance. O Vasco era só pressão, mas parava nas mãos do iluminado goleiro rubro-negro. Até que, aos 43 minutos do segundo tempo, com a torcida vascaína já comemorando o título, veio o momento que não sai da cabeça de quem assistiu àquela decisão.

Falta para o Flamengo, na entrada da área, em cima de Edílson. Adivinha quem vai bater? É o camisa 10 da Gávea. Música famosa de Jorge Ben, em homenagem a Zico. Não foi bem este camisa 10 da Gávea quem bateu. Foi outro. O sérvio Petkovic. Mas a classe e categoria da cobrança foram as mesmas do Galinho de Quintino, maior ídolo da história do Clube. As imagens não saem da cabeça dos rubro-negros. O lateral-direito Alessandro rezando no banco de reservas. Zagallo segurando uma imagem de São Judas Tadeu. O então técnico vascaíno Joel Santana desesperado no banco.

Era um momento decisivo. Caso o Flamengo fizesse o gol, seria tricampeão. Em uma linda coreografia, a torcida rubro-negra passou energia positiva para o time. O árbitro Léo Feldam apitou, Petkovic partiu para a bola, e como se tivesse colocado com a mão, a bola foi parar no fundo das redes, no ângulo esquerdo do goleiro vascaíno Helton. Sem chances, indefensável, indescritível, emocionante. Uma explosão de alegria em vermelho e preto se deu no Maracanã e em todo Brasil.

A partir daí, foi só comemorar. Abrindo o novo século no futebol carioca com um título todo especial. Um tricampeonato na virada do século XX para o século XXI. Um tricampeonato com três conquistas em cima do arqui-rival Vasco. Um tricampeonato com tudo que o torcedor do Flamengo merecia, e da maneira que ele mais gosta: com raça e emoção.

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